sábado, 13 de agosto de 2016

Lucidez Insensata

"Não!" É tudo que eu consigo pensar o tempo todo... Como uma ordem. “Não” para tudo que dizem, para tudo que me prometem, para os juramentos, para cada fala que diz o quanto eu sou importante. Esse “não“ que ecoa na minha mente, que assombra meu espírito, que me faz recuar para cada oportunidade de felicidade, mesmo que eu vá em frente. Contraditório. Eu finjo. Finjo existir, acreditar, seguir em frente... Finjo que aquela música me faz bem, que eu estou revigorada, que eu tenho planos.  Eu não tenho nem alma. Esse “não” que soa tão imperativo, que significa “Não acredite nessa menina”... “Não acredite nesse menino”... Todos eles mentem, todos estão mentindo... Até eu. Mentindo para mim mesma com essas opiniões bem formuladas, com esse português bem escrito. É tudo pose para me sentir importante pelo menos 10 minutos. Para iludir a mim mesma e me fazer pensar que sei de alguma coisa. “Não sabe de nada”. Eu estou apenas em uma crise... Não há lucidez nas minhas palavras. No fundo, eu acredito naquele moço que me espera na porta da escola, no “eu te amo” da minha irmã, na inteligência, no estranho que passa por mim na rua. Mas me encontro absurdamente miserável nesse momento. Tudo se esvai com a cegueira das minhas tristezas momentâneas, todas as minhas crenças vão embora enquanto eu remoo minha crise idiota de identidade. Eu sou uma doente, uma miserável, egoísta. Sou deprimente. Mas é só uma tempestade, só isso... Eu digo isso sempre. Não leve a mal o que eu disse, é só uma crise. Não há lucidez nas minhas palavras.

Folheando Buk

Rabisco qualquer coisa para sanar esse medo de escrever que me envolve faz uns três anos. Eu escrevo mal... Eu tenho medo de mim mesma, tenho medo de me ler. Mas é em madrugadas como essa, onde as coisas já não cabem mais em mim, que eu me arrisco. Eu esqueço de mim. Hoje é só mais um daqueles dias que eu não me sinto; não sinto meus pensamentos, as pessoas ao meu redor, as minhas mãos na caneta. Só mais um dia que eu me questiono, que eu me destruo. Por que eu não sei interagir? Por que eu não sei me relacionar, igual a todo mundo? As pessoas são um veneno que me mata a cada olhar, a cada palavra dita, a cada beijo trocado. Relacionamento é algo perturbador que faz eu me sentir como aqueles trapos que se usa pra limpar a mesa da cozinha e se joga fora depois de um tempo. É o que me acontece. É o que as pessoas fazem. É o que eu, possivelmente, faço. Eu sou igual a todos eles... Eu trepo. Cago. Durmo. Eu sonho e planejo coisas que finjo que irão me fazer feliz, algum dia. Folheio Buk, porque preciso de alguém para conversar agora. Eu perco o foco com a cortina que balança, com o rádio do meu avô, com a folha que o vento levou. Escrevo enquanto alguém pode estar me esquecendo agora, enquanto alguém pensa em repor o trapo da mesa da cozinha. Escrevo mal e não tenho a menor pretensão de escrever bem, no momento. Os meus olhos pesam tanto, mas tem uma cidade grande dentro da minha cabeça... Uma ambulância passa no caos do trânsito dos meus pensamentos. Tem alguém morrendo em algum lugar, dentro de mim. E eu só consigo contar os minutos para que o dia amanheça e eu tenha uma nova oportunidade de viver uma nova mentira. Mais um dia dado pelos deuses para eu fingir, para todos fingirem estar bem ou que não sabem como os outros realmente estão. Mais um dia de atuação nessa grande tragédia. A vida em si é uma condição infeliz, onde as pessoas buscam, a todo custo, algum tipo de satisfação, algo que nos faça feliz até enjoarmos e inventarmos uma nova conveniência, como um modelo novo de celular.